
Por medo de sofrer, excluímos da vida social todos aqueles que são diferentes de nós. Com isso, perdemos a oportunidade de ouvir o apelo do necessitado e de transformar o mundo num lugar melhor.
No Evangelho de Lucas, Jesus conta uma história comovente. Havia um mendigo chamado Lázaro que vivia nas ruas. Ele vivia faminto, e suas pernas estavam cobertas de feridas. Em frente a ele, em uma bela casa, vivia um homem rico que costumava oferecer grandes festas a seus amigos. Lázaro gostaria de comer algumas migalhas que caíam de sua mesa, mas os cães as devoravam. Certo dia, Lázaro morreu e foi para o lugar de paz, no "seio de Abraão". O homem rico também morreu e foi para o "lugar de tormento". Olhando para cima, ele viu Lázaro radiante de paz e exclamou: "Pai Abraão, por favor, mande que Lázaro venha até aqui para colocar um pouco de água em meus lábios, pois estou sofrendo!" Abraão respondeu: "Impossível. Entre você e ele há um abismo que ninguém pode transpor." Ele poderia ter acrescentado: "Assim como houve um abismo entre você e ele durante a sua vida na Terra."
Essa história de Lázaro nos diz muito sobre o mundo atual, onde há um imenso abismo entre aqueles que têm comida, dinheiro e conforto e aqueles que estão famintos ou não têm uma casa para morar. Lembro-me de ver crianças em Calcutá com o nariz colocado à vitrine de um luxuoso restaurante. De tempos em tempos, o porteiro as enxotava dali. Os ricos - e isso inclui a mim e a muitos de vocês - não gostam de ver mendigos sujos olhando para eles. Não sentimos todos nós constrangimento e medo diante daqueles que estão famintos?
O que é esse abismo que separa as pessoas? Por que somos incapazes de olhar Lázaro nos olhos e escutá-lo?
Suponho que excluímos Lázaro porque tememos que nosso coração fique sensibilizado se entrarmos em um relacionamento com ele. Se escutarmos sua história e ouvirmos seu grito de sofrimento, descobriremos que ele é um ser humano. Podemos ficar sensibilizados diante do seu coração ferido e de seus infortúnios. O que acontece quando nosso coração é sensibilizado? Podemos querer fazer algo para confortá-lo e ajudá-lo, para aliviar seu sofrimento, e para onde isso nos levará? Quando começamos a conversar com um mendigo, corremos o risco de entrar numa aventura. Porque Lázaro não necessita apenas de dinheiro, mas também de um lugar para morar, tratamento médico, talvez trabalho e, mais ainda, ele precisa de amizade.
Por isso é perigoso entrar em um relacionamento com os lázaros do nosso mundo. Se o fizermos, corremos o risco de ter nossa vida modificada.
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